sábado, 11 de setembro de 2010

Inesperado

As pessoas podem fazer coisas inesperadas.


"Nunca tinha tempo... nunca tinha tempo. Parecia que o mais importante era qualquer outra coisa sem ser eu... parecia que os doces momentos que passamos juntos já haviam sido apagados... ainda me lembro da vez em que fomos naquele festival... da vez em que fomos pescar... da vez em que todos foram ao cinema... mas agora... já não existem mais... parece que tudo o que poderíamos ter feito juntos, já fizemos. Bons momentos aqueles que ainda se importava comigo, momentos que ainda agradava lhe a minha companhia. Há pessoas que acreditam que a vida é feita de momentos, e não do esforço para viver... e eu sou uma delas."


        Era o último parágrafo do diário de seu pai. Lágrimas escorriam de seus olhos cheios de arrependimentos e lembranças... havia percebido na crueldade que havia feito com aquele que mais queria sua felicidade, que mais queria seu bem estar, aquele que mais o amava. Jason fechava o diário devagar enquanto lágrimas não paravam de cair sobre o mesmo, ele estava se punindo por dentro por não ter feito mais do que fez pelo seu pai que fez tanto por ele, dava socos em si mesmo no peito, movia a cabeça negativamente enquanto caía sobre o mar de lágrimas. Sua mulher o observava da porta, queria ir confortá-lo, mas aquele momento não pertencia a mais ninguém além do próprio Jason.
        Sentado sobre a velha cama de seu pai naquela velha casa aconchegante na qual cresceu e viveu até seus 18 anos, Jason, já mais calmo, ficava ali de olhos fechados, sentindo a temperatura morna e acolhedora daquela casa, sentindo suas lembranças de moleque. Sua mulher estava no corredor arrumando os caixotes que carregavam alguns enfeites daquela casa, parecia uma mudança, ela apenas parava um momento, e ficava o observando, abaixava a cabeça e continuava a arrumar.
        "Porque? Como eu pude fazer isso? Não percebi o quanto machuquei meu pai? Será que ainda posso voltar atrás?" - Jason se perguntava.
        Em um ato inesperado, Jason se levantava e batia a mão na porta do quarto fazendo sua mulher se assustar e olhar para ele, o homem de meia idade tinha um olhar esperançoso, parecia que poderia consertar um grande erro do passado e trazer a felicidade novamente, trazer as boas lembranças de volta para serem lembradas de forma que merecem ser lembradas, lembradas de forma feliz, compartilhadas com todos... com todos. Corria as pressas, sua mulher questionava, queria entender o que estava acontecendo, o porque da pressa, Jason não dizia nada, apenas pegava a chave do carro e falava para sua mulher entrar no mesmo pois teria de ir para um lugar.
        Em alta velocidade dirigia, ele parecia não se importar com nada além de chegar ao local o mais rápido possível, sua mulher começava a reconhecer o caminho e parecia começar a entender o que seu marido iria fazer, e olhava para ele surpresa, mas dava um sorriso. Não demorava muito. Estacionavam o carro naquela rua calma, em frente a aquele lugar. Ambos saíam do carro e entravam de mãos dadas no local.
        Uma mulher bondosa os guiava pelos corredores do lugar, os levando até o quarto número 13, ela o abria e dizia para ficarem a vontade e se afastava. Jason estava um pouco nervoso, sua mulher iria esperá-lo ali da porta, apenas apertava seus ombros dando-o a coragem de entrar e assim o fazia.
        "Quem está aí? Espere... esse jeito de andar... não pode ser verdade, não é? ... Jason?"
        "Sou eu sim... pai."
        Cego pela idade, o pai de Jason reconhecia seu filho depois de 15 anos sem vê-lo. Sua voz estava mais fraca, era difícil de andar, mas seu coração ainda era o mesmo, ele não conseguia evitar de deixar algumas lágrimas escorrer de seus olhos, não conseguia dizer mais nada, apenas sentia feliz por 'ver' seu filho mais uma vez, mesmo que ele fosse embora novamente.
        Se aproximava de seu pai o bastante para abraçá-lo com força. Um abraço forte não de força bruta, mas de força do amor, um abraço sincero que Jason e seu pai não sentiam a 15 anos um do outro. Aos choros Jason dizia: "Pai, me desculpe, pai! Não percebi o quanto fiz o senhor sofrer! Juro que não foi o que eu quis! Eu o coloquei aqui porq-" - seu pai o interrompia dando um carinho na cabeça de seu filho, e dizia de forma calma: "Eu sei que foi para meu bem estar... para que pessoas especializadas pudessem cuidar desse velho que só serve para dar trabalho aos outros... mas fico feliz que esteja aqui, não tem do que se desculpar... você é meu filho, fico feliz que tenha voltado antes de eu partir." - Jason então respondia: "Não diga isso! Vai demorar muito para o senhor partir! Então vamos, eu vim te buscar!" - Muito surpreso ficava aquele pai, apesar do bom tratamento das pessoas, o amor da família é insubstituível.
        A mulher de Jason não continha as lágrimas. Todos choravam, mas era de felicidade. Jason não se perdoava em ter colocado seu pai no asilo. Assim saíam do local... Jason, sua mulher... e seu pai, todos juntos de volta para casa.
        As pessoas podem fazer coisas inesperadas... realmente.


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