sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A Arte da Felicidade

      A vida parecia ser miserável para Brian. Artista plástico, que não ganhava muito, seu salário mensal variava, não tinha uma renda fixa. A noite, caía nos bares do subúrbio da cidade... a bebida o consumia até desmaiar ou colocar para fora tudo o que havia bebido. Era uma vida sem rumo, sem nenhum objetivo, sem alma.
      Lembranças boas talvez fossem as únicas coisas boas que ainda lhe restava. 
      Estava Brian naquela tarde, dentro de seu apartamento alugado imundo cheio de fumaça do seu cigarro, pintando algo em uma tela. Haviam tintas já secas nas paredes, no chão, jornais velhos por todos os lados, garrafas de cerveja, vodka, vinho, pinga e inúmeras bebidas alcoólicas jogadas pela casa. Diferente das outras pinturas, o artista parecia caprichar mais naquela que estava pintando, ainda não dava para definir o que seria, pois haviam apenas rabiscos, porém rabiscos firmes e leves, e não pesados e sem forma como fazia nas outras pinturas. 
      Horas e horas se passavam, maços e mais maços de cigarro eram jogados vazios ao chão, garrafas e mais garrafas de whisky, vodka e cerveja eram consumidas, tintas e mais tintas eram usadas na pintura. Faltava pouco para Brian completar sua obra, mas parecia cansado, assim decidia descansar. Ele dava uma limpada meio mal feita no sofá que estava imundo de salgadinhos, cigarros e outras coisas e se deitava. 
      Areia, mar, brisa, sol, coqueiros... era uma praia deserta de ondas calmas, de temperatura agradável, o sol não era escaldante, era morno e acolhedor, como se fosse o sol calmo da manhã. Além do som das gaivotas, se escutava a melodia harmoniosa das ondas do mar, fazendo a vontade de fechar os olhos e escutá-las ser grande, porém o céu era um verdadeiro espetáculo, com as nuvens que possuíam diversas formas fazendo do céu uma bela obra prima.
      Já era tarde da noite, Brian acordava com uma dor de cabeça suportável, depois de ter tantas insuportáveis nessa vida... e se levantava indo para próximo da sua obra não terminada. Como se sua expressão de preguiça sumisse, o artista dava um sorriso leviano, nada demais, mas estava muito satisfeito com os resultados de sua obra até o momento, então assim decidia terminá-la. 
      Uma falta de ar começava a incomodá-lo. Coçava os olhos, parecia que a imagem estava ficando embaçada, um cansaço grande tomava conta de todo seu corpo, e mesmo assim Brian não parava de pintar. Minutos se passavam, e cada vez mais a dificuldade de terminar aquela pintura aumentava. Chegava um momento em que era difícil ficar em pé, e como se soubesse o que estava acontecendo, o pintor dava gargalhadas enquanto ia se abaixando até que ficasse deitado ao chão, estava calmo, apesar de estar morrendo. Brian estava feliz naquele momento, iria deixar sua vida miserável, que nunca significou nada, sua obra estava finalmente terminada, era seu sonho, era uma cena de uma praia. Porém não era uma imagem qualquer , quem quer que a olhasse, sentiria o sol morno na pele, o cheiro do mar, o som das ondas fazendo uma harmoniosa melodia, o som das gaivotas, iria apreciar o imenso céu azul... era apenas uma imagem, mas havia felicidade nela, parecia que Brian havia colocado ali, toda sua felicidade até não poder mais... e no leito de sua morte, a última coisa que viu, foi o lugar de seus sonhos.
      

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