quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Chuva

"Minhas meias brancas com detalhes de flores azuis esquentavam meus pequenos pés naquele dia de chuva. Eu tirava os sapatos, ia até o quarto de minha mãe, ficava entre a porta e o guarda roupa sentada no chão encostada na parede, apenas observando a chuva da janela. Não era um dia triste... era um dia ensolarado e alegre disfarçado em meio a chuva."

Dias frios, escuros, com chuviscos que ameaçavam uma chuva... eram dias em que desanimavam qualquer um. O sol de toda manhã, em dias assim, mal aparecia, dando uma sensação de fim de tarde, de desânimo, como se você tivesse trabalhado o dia todo, essa era a impressão que dava. Guardas chuva pretos eram a maioria na rua, isso colaborava ainda mais para aquele ânimo de luto, e sem falar nas roupas escuras que cobriam todo o corpo. Dias de chuva para Adrielle eram assim, como se fossem dias de luto.
Já morava fazia 10 anos naquela mesma casa, sozinha. A chuva só fazia Adrielle se sentir ainda mais solitária, pois se lembrava de sua antiga casa, onde tinha a mania de se sentar ao chão no quarto de sua falecida mãe a ficar olhando a chuva passar pela janela. 
Sem muita coisa para fazer naquele domingo chuvoso, Adrielle decidia dar uma arrumada em sua casa já que estava precisando e também queria passar o tempo. Passava horas arrumando cada canto de sua casa, até que foi arrumar o guarda roupa. O guarda roupa era antigo, e era de sua mãe. Com cuidado ela abria as gavetas que nunca usara, e dentro delas haviam algumas coisas esquecidas. Ela tirava um porta-retrato antigo dela com sua mãe e deixava sobre a cama com cuidado, depois uma pequena caixa de jóias que estava vazia mas lhe trazia muitas lembranças, e por fim uma sacola de pano todo rendado fechado por um laço azul. Adrielle ficava curiosa a respeito e retirava o laço com cuidado, assim abrindo a sacola. 
Sobre a cama, ela virava a sacola de cabeça para baixo para que o que estivesse lá dentro caísse sobre a maciez da cama. Assim que aquilo aparecia perante aos olhos de Adrielle, eles simplesmente se encheram de lágrimas.
Eram pequenas meias brancas com detalhes de flores azuis... já não lhe serviam mais, mas ela sentia uma vontade imensa de vesti-las e se sentar ao chão para apreciar a chuva, como nos velhos tempos. 
Adrielle pegava as pequenas meias, se dirigia até perto da porta do quarto que era ao lado do guarda roupa, retirava os sapatos e ali se sentava encostando-se na parede. Via minúsculas gotas de chuva escorrerem pelo vidro da janela de seu quarto, e como se o som, o cheiro e a temperatura fossem a mesma de quando era criança, Adrielle passava a tarde toda ali... com um sorriso no rosto, sentindo a nostalgia de assistir a chuva, que agora não parecia mais ser um dia de luto, e sim um dia ensolarado e alegre disfarçado em meio a chuva.


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