quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Volte, e me encontre de novo.

      Eu sentia um vazio no coração. Parecia que estava faltando algo em minha vida. E quando eu já desistia de ir em busca do que me faltava... o vazio era finalmente preenchido.
      Ela era a formosidade mais encantadora que poderia existir. Senti que ela era o que me faltava. Quando chegou em casa, era tão pequena, tímida, parecia ser frágil e despertava um grande desejo nas pessoas de quererem cuidar dela. Não tinha mais que um mês de vida. Invocada, ficava quieta, apenas observando o novo lar e sua nova família. Seus olhos castanhos e redondos eram graciosos e ao mesmo tempo marcantes, sua pelagem era em um leve tom champanhe e seus fios eram ondulados e macios. A princípio, antes mesmo dela chegar, queríamos nomeá-la de Suri. Porém ela já chegava com um nome. Jully.
      Seu primeiro dia em seu novo lar foi estranho. Todas aquelas pessoas, todos aqueles cômodos, todos aqueles brinquedos... tudo era diferente e novo. Talvez sentia um certo medo e insegurança, mas isso não a impedia de tentar se adaptar ao novo lugar. Com muita paciência, eu e minha irmã fomos tentando conquistar sua confiança. E no final do primeiro dia, ela já não ficava mais escondida debaixo do sofá. A noite, era levada para dormir junto conosco, em nossos colchões. Era muito pequena e todos achavam melhor nas primeiras noites, não deixá-la sozinha.
      Uma coisa quente e molhada podia se sentir naquele colchão na manhã seguinte. Mas que beleza... Jully havia feito xixi no meu colchão! Todos ficavam frustrados com aquilo, certamente teríamos que educar aquela pequenina. As refeições eram simples, simples demais, apenas leite e quatro grãos de ração, mas era indicação de sua antiga família. Porém isso não durava muito tempo, logo sua refeição foi sendo cada vez mais aprimorada e ficando cada vez mais saborosa. Afinal, ninguém gosta de comer algo sem sabor.
      Nos primeiros meses aquela pequenina foi revelando uma personalidade agitada, arisca, e dependendo até irritante. Não podia ver alguém andando, que já corria atrás para morder os sapatos da pessoa. Não podia receber um carinho na cabeça, que já queria morder a mão da pessoa. Não podia ver uma cadeira de madeira, que simplesmente a devorava. Não se sabe quanta coisa já foi destruída por aquela criaturinha. A almofada que usava como cama, simplesmente fora destroçada... as roupas para o frio, foram despedaçadas, nem mesmo servindo para ser pano de chão... os brinquedos de borracha pareciam brinquedos deformados, já que eram destruídos por ela... os móveis da casa estavam quase todos mordidos e riscados... Jully realmente era muito agitada em sua infância.
      Os anos foram passando, e Jully foi crescendo. Fugiu de casa, quase engravidou, aprendeu truques de adestramento, ficou com um berne morto nas costas durante 3 anos, só foi ser castrada aos 10 anos de idade, enfim, inúmeras coisas aconteceram. E a cada acontecimento, Jully se tornava cada vez mais sábia. Sua personalidade definitiva não era uma cachorra arisca, irritante, agitada e destruidora de móveis. E sim uma cachorra calma, paciente, obediente, carinhosa, boazinha, boba, folgada, preguiçosa, gulosa, enfim... Jully era Jully.
      Na manhã do dia 8 de outubro de 2011, aproximadamente as 7hr da manhã, Jully falecia em sua casa, ao lado da vovó que cuidou dela durante toda sua vida. Não se sabe o que estava sentindo no leito de sua morte, mas ao menos não estava sozinha quando deixou este mundo. Ninguém gostaria de morrer sozinho. Ao menos um adeus, todos gostariam de dar, e assim foi com Jully. Fico mais tranquila com isso.
      Sua morte fará com que sua vida fique apenas nas lembranças. Por isso espero encontrá-la novamente algum dia, quando ela renascer. Todos esperam nunca mais renascerem pois isso indica que já atingiram sua iluminação... porém eu quero que ela volte, que ela volte para este mundo, que renasça e volte para mim. Pode parecer um pouco egoísta... mas um vazio ficará em meu coração enquanto não encontrá-la novamente. Quero poder viver ao seu lado novamente, não quero perdê-la para sempre. Então por favor, volte, Jully. Volte e me encontre de novo.

Jully - 28/08/2000 - 08/10/2011

Estarei esperando.


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