sábado, 20 de abril de 2013

Sorrir

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      Ela parecia ser uma jovem forte. Sempre estava sorrindo e sendo gentil com as pessoas, mesmo com muitos problemas em sua vida. 
      Elise tinha passado por maus bocados nos ultimos meses. - Sua mãe estava nos estágios finais do câncer de mama. Seu pai ainda causava confusões devido ao seu alcoolismo. Seu irmão cobrava quase toda semana uma quantia grande em dinheiro para comprar drogas. Seu ex-namorado, que a espancava e foi preso, seria solto em breve devido ao bom comportamento na cadeia. Sem falar nas inúmeras dívidas e os riscos de ter seus poucos bens tomados. - Mas ela continuava a sorrir.
      Amanda, uma amiga, ficava admirada com os fardos que Elise tinha que lidar e mesmo assim ela tinha disposição e ânimo para continuar a viver.

      - Não sei como você consegue... se fosse eu... acho que eu já teria me matado... - Disse Amanda, ajudando Elise a limpar o balcão da pequena cafeteria onde elas trabalhavam.
      - Que horror, Amanda! - Exclamou Elise. - Posso ter muitos problemas... mas se estou conseguindo mantê-los no controle, por mim tudo bem. - E sorriu.
      Amanda sorriu, feliz por ver que Elise estava 'bem'.

      No dia seguinte, Elise voltava para sua corrida rotina, e novamente... ficava sempre a sorrir.
      Amanda percebeu que Elise estava começando a se desanimar, e a convidou para tomar um café em uma lanchonete próxima.

      - Elise... - Disse a amiga, segurando com ambas as mãos a xícara de café, enquanto olhava de forma preocupada para Elise.
      - Hum...? - Respondeu Elise, levantando a cabeça, na qual estava cabisbaixa, sem sorrir.
      - Você sabe que pode contar comigo, não sabe? Sabe que eu vou te ajudar de qualqu-

      Antes que Amanda pudesse continuar a falar, Elise a interrompia e dizia de forma gentil:

      - Amanda, querida... eu sei. Muito obrigada por todos esses anos, por ser uma grande amiga, por ser uma irmã pra mim... - Disse dando um leve sorriso. - Mas está tudo bem. Eu consigo. Eu sei que consigo.

      Amanda ficou olhando durante um tempo para sua amiga, um tanto impressionada com sua determinação. Ela então olhou para seu café, tomou um gole e em seguida voltou a olhar Elise. Deu um leve suspiro e continuou a falar:

      - Tudo bem, Elise... mas se precisar de qualquer coisa, de qualquer coisa mesmo, não hesite em me chamar, ok? - Disse Amanda um pouco imperativa, apontando o dedo em direção a Elise, brincando como se fosse uma mãe dando sermão.
      - Claro, Amanda, pode deixar. - Disse Elise rindo.
      - Mas me diga uma coisa... - Disse Amanda, pensativa e curiosa.
      - O que?
      - Como? Como você consegue?
      - Oras... - Elise tomou um gole de seu café, e ainda olhando para a xícara, continuou. - Tudo tende ao equilíbrio, não é? Eu sei que depois da tempestade, sempre haverá um céu límpido e calmo. - Ela então olhou para a amiga e deu um sorriso. -  E a vida é a mesma coisa. Então quando penso em desistir... me lembro desse fato. Por pior que seja a situação, um dia irá passar e ficará tudo bem. A tempestade não serve para bagunçar nossas vidas... mas sim darmos valor à ela e as coisas que realmente importam.
 
      Amanda sentiu um conforto em si mesma, mesmo que não tivesse muitos problemas, depois de ouvir tais gentis palavras. Elise olhou para o lado de fora, viu a rua, as pessoas, a luz do entardecer alaranjando os prédios. Sorriu e disse:

      - E enquanto a tempestade não passa, sorria. E depois que ela passar... sorria também.


Dias ruins ou bons, um sorriso basta.

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Baú Trancado

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      Victoria vivia dentro de um baú. E este baú era trancado e ninguém tinha a chave para abri-lo, a chave estava perdida em algum lugar por aí. Porém Victoria não queria que abrissem seu baú, sua casa, seu mundo. Pois não estava pronta para sair. Apesar de estar aprisionada lá dentro, ela se sentia livre. Era livre para ser ela mesma em um mundo em que ela mesma criou. Ela tinha medo de sair, pois sabia que lá fora, teria que abrir mão de ser ela mesma, abrir mão de seu mundo, para poder sobreviver fora de seu baú.
      Em um belo dia, Victoria acordou com um som no que parecia serem chaves se mexendo. O som parecia cada vez mais próximo e Victoria logo se levantou da cama e encostou o ouvido na parede do baú para escutar melhor. De repente o som parou.

      - Ué? O que aconteceu? - Perguntou para si mesma, curiosa.

      E não demorou muito para o som voltar, e dessa vez estava bem próximo. Logo a fechadura começou a ser destrancada. Victoria olhou desesperadamente para tal fechadura, percebeu que alguém estava destrancando o baú. Ela olhou em volta à procura de alguma coisa que pudesse ajudá-la a evitar de abrirem sua casa, mas sem nada para ajudá-la, seu baú fora destrancado.
      Ela olhou em direção a abertura e viu uma sombra contra a luz, parecia ser um rapaz. Ele então simplesmente pulou para dentro do baú de Victória, e com um sorriso no rosto disse, olhando para ela:

      - Olá! Me chamo Tyler! Desculpe invadir de repente o seu baú... mas é que eu estava muito curioso para ver quem estava aqui dentro, já que eu tinha a chave.

      - Oh... er... oi Tyler, eu me chamo Victoria... - Disse a jovem moça, ainda um pouco perdida com a nova situação em que se encontrava.

      - Muito prazer, Victoria! E nossa, você é linda!

      Nesse momento Vitoria se sentiu lisonjeada e corou seu rosto. Mas ela tentou continuar a ser racional, e ainda séria, perguntou:

      - E como conseguiu a chave?

      - Bom... eu encontrei ela perdida por aí, e daí depois encontrei esse baú, daí fui tentar abrir e te encontrei!

      - Ah... - Disse Victoria, não acreditando muito naquilo.

      Tyler, simpático, sorriu e estendeu a mão para a jovem e disse:

      - Venha! Venha conhecer o mundo lá fora! Você vai adorar!

      Victoria sentiu medo, mas ao mesmo tempo sentiu uma grande curiosidade e vontade de explorar mundo a fora. Então ela respirou fundo e aceitou o convite, segurou na mão do garoto e juntos saíram do baú.
      Tyler mostrou um mundo totalmente diferente do mundo de Victoria. E as novidades a deixavam encantada, era um novo mundo, uma nova vida. E Tyler a deixava encantada também, por lhe mostrar aquele belo mundo.
      Passou bastante tempo do lado de fora, aprendendo sobre várias coisas, conhecendo pessoas novas, começou a ter novos gostos, etc. Tudo parecia ser maravilhoso, ao contrário do que ela pensava enquanto estava presa. Porém... esse mundo novo fez com que Victoria mudasse. Ela não sabia se tinha mudado para melhor ou pior. Ficou confusa, mas deixou isso pra lá e continuou a explorar o mundo novo.
      Quando Victoria voltou para sua casa, viu que não havia mais nada. Pois havia deixado seu baú destrancado. Destrancado por causa que Tyler estava com a chave. Haviam roubado suas coisas. Ela ficou desesperada, e logo pensou em voltar para a casa de Tyler para pedir ajuda.
      Porém durante o caminho, ela viu Tyler e seus amigos carregarem algumas coisas, levando para um carro. Eram as suas coisas. Victoria ficou chocada.
      "Tyler... por que?", questionou a inocente garota, com pequenas lágrimas escorrendo em seu rosto, enquanto via Tyler levar todas as suas coisas.
      Ela voltou correndo para o seu baú. No caminho tropeçou em algo jogado no chão. E ao ver o que era, ficou surpresa. Era sua chave. Victoria olhou chocada ao encontrá-la jogada ali de forma grotesca e quase quebrada, e a pegou rapidamente, entrou em sua casa e trancou-a novamente. A jovem se sentou no chão,  enquanto estava encostada na porta, segurou a chave com ambas as mãos e trouxe para perto do peito, e começou a chorar.
      Victoria então decidiu que a partir daquele momento, jamais destrancaria seu baú novamente. Jamais.

Se o baú for seu coração...

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