Sekai no Owari - 2

 2 - O guardião

"Uma série de crises começam a tomar conta do mundo...'Tchhh'... 50 anos atrás, pesquisadores diziam que os recursos começariam a acabar daqui 100 anos... 'Tchhh' ... O governo e os cientistas responsáveis pelas pesquisas, agora confessam que durante anos esconderam os problemas que agora estão afetando todas as partes do mundo... 'Tchhh' ... A água potável aumentou seu preço drasticamente excluindo certas classes sociais e os alimentos começam a faltar em países desenvolvidos... 'Tchhh' ... A produção de alumínio e outros metais diminuiu por falta de matéria prima... 'Tchhhhhh'..." 
Eram pedaços de notícias antigas, notícias de antes mesmo de eu nascer. Nasci em um mundo onde as coisas eram escassas, portanto não conheci o mundo de exageros e desperdícios que meu pai falava. Ficava durante umas 2 horas sem acontecer nada, pensei que era apenas aquilo que havia no dispositivo, eram coisas que eu já sabia, mas de repente um áudio começava a passar... era a voz de uma mulher:


" 'Tchh'... Doutora Elizabeth McDowan, cientista da SAREUS - Secret Agency of Research and Experimentation of the U.S.., 2:42 P.M., 16/01/2101, Laboratório de experimentos secretos da SAREUS.
Estamos agora começando a colocar em prática o projeto que revolucionará o mundo, que revolucionará a espécie humana... o projeto Survivor. Durante anos de pesquisas finalmente conseguimos criar o gene humano do aperfeiçoamento, o gene que será capaz de fazer o ser humano quebrar limites, que será capaz de fazer o ser humano ser mais que um simples humano. 
Hoje introduziremos estes genes em 200 fetos que estão sendo criados neste laboratório dentro de úteros artificiais que desenvolvemos a algum anos para esse propósito. O que se espera é um super humano, capaz de sobreviver no mundo futuro de escassez, quando o mundo não for mais favorável para nossa existência.

'Tchh' ... 20/08/2102, 10:00 P.M., Laboratório de experimentos secretos da SAREUS.
Os fetos já se tornaram bebês com quase um ano de idade. De 200, 20 morreram antes de completarem um mês de gestação, 50 antes de completarem 6 meses de gestação e 50 antes de um mês depois do nascimento. Sobraram 80 bebês, e estes se apresentam em ótimas condições. Se espera que todos eles sobrevivam até o final do projeto.

'Tchh' ... 21/11/2112, 1:30 A.M., Laboratório de experimentos secretos da SAREUS.
As crianças estão com 10 anos de idade e das 80 que haviam sobrevivido em 2102, 43 morreram antes de chegarem a esta idade. Conclui-se que a cada mudança de crescimento o gene pode causar a morte da criança se a mesma não se tornar 100% compatível com o gene.

'Tchh' ... 13/05/2117, 3:13 P.M, Laboratório de experimentos secretos da SAREUS.
As crianças sobreviventes agora são adolescentes de 15 anos de idade. Das 37 que haviam sobrevivido, 22 morreram na puberdade, sobrando 15 saudáveis. Estes sobreviventes demonstraram mais capacidade física e mental do que a média dos adolescentes considerados inteligentes e atletas, seus corpos são incrivelmente mais resistentes ao frio e ao calor e podem ficar sem se alimentarem durante 6 meses e sem se hidratarem durante 3 meses. Isso é algo incrível e temos grandes esperanças de que tudo saia como esperamos.

'Tchh'... 7/09/2120, 4:43 P.M., Laboratório de experimentos secretos da SAREUS.
As nossas crianças agora possuem 17 anos de idade e dos 15 que tínhamos, 13 sobreviveram. Conforme nossas estatísticas, a partir de agora a taxa de mortalidade será quase zero pelo fato de que as mudanças do corpo já estejam mais estáveis, sendo assim, aqueles que sobreviveram, são aqueles compatíveis 100% com o gene. 'Tchhh' ... O Que!? O que está acontecendo lá atrás? 'Tchhh' ... Ahhhh! As crianças! 'Tchhh' Não deixem elas escaparem!! 'Tchhh' ... Dr. Sakai!! 'Tchhh' ... Dra. McDowan! Não sei o que houve! De repente ficaram agressivas e são muito fortes, não consegui detê-las!! Nem mesmo o tranquilizante funcionou! Guardas, peguem eles! Não os deixem escapar 'Tchhh' O futuro da espécie humana depende dessas cri ... 'Tchhh' ..."

Eu simplesmente não acreditei. A última voz era... era de meu pai. O que eu tinha entendido de tudo aquilo, é que estavam fazendo alguma experiência secreta, e que estavam usando aquelas crianças criadas em laboratório... isso tudo me deixou em choque, era informação demais. O mundo era construído por ignorantes e oportunistas, o passado havia sido enterrado e esquecido conforme foram se passando as gerações, poucos sabiam de como o mundo de excesso havia se tornado um mundo de escassez... eu era uma das poucas que tinha algum conhecimento de como isso acontecera graças a meu pai que me contava tudo. Certamente eram informações perigosas... que ninguém deveria saber a não ser as pessoas certas, mas... quem eram essas pessoas? O que eu deveria fazer? Meu pai me confiou uma missão, pelo menos era isso que eu entendi, mas eu não sabia por onde começar... nem mesmo sabia o que deveria fazer. 


Fiquei sentada naquela cadeira por horas, tentando pensar em alguma coisa, tentando entender tudo, tentando encontrar o que eu deveria fazer. 
O sol já começava a se pôr, e eu não havia comido nada o dia todo, e mesmo sem estar com fome, decidi ir procurar algo para comer antes que o céu escurecesse.
Procurei por canos, vidros, arames e qualquer outra coisa que eu pudesse usar como arma, tanto para caçar quanto para me defender. Assim eu saía da segurança do prédio para as hostis ruas da cidade que chamavam de Darkness. Ratos, gatos, cães, dentre outros animais e plantas, eram a principal fonte de alimento. Eu costumava fazer trocas com um senhor que morava perto do centro de Darkness, eu levava ferramentas que encontrava e que poderiam ser úteis para ele e o mesmo me dava água e comida que ele mesmo caçava. Porém o assassinaram com o propósito de descobrirem a fonte de água na qual ele coletava a água... mas ele jamais revelou onde era, e o segredo da localização da fonte foi enterrada junto a ele.
Vi um cão fraco próximo de onde eu estava. Ele mal conseguia andar, mas ainda assim estava vivo. Era uma presa fácil, pois com um golpe na cabeça já bastaria para o animal cair. Me aproximei do mesmo, ele me olhou e abanou a cauda. Eu simplesmente não consegui dar o golpe com o pedaço de cano que eu segurava... caí sentada no chão, larguei o cano no chão e fiquei olhando para o animal... senti raiva... raiva de mim... por sentir pena do cão.


Naquele momento percebi a pessoa fraca que eu era. Eu era fraca por não conseguir matar um animal para me alimentar. As vezes eu achava que eu não deveria estar naquele mundo.
Eu senti um aperto no coração ao ver o estado em que aquele cachorro se encontrava, certamente eu era fraca.
Mal percebi que já havia anoitecido, as ruas estavam escuras na maior parte delas, e haviam apenas alguns postes que funcionavam. O cão estava tão debilitado que seus sentidos estavam menos aguçados que os meus, pois percebi algo se aproximando antes do cão. Escutava-se barulho de correntes balançando, passos lentos e firmes, também barulho de cano ou algum metal sendo arrastado no chão... eu não sabia de que lado estava vindo, e não sabia para que lado deveria fugir. O cão se levantava e antes que pudesse correr em uma certa direção, sua cabeça era decepada de seu corpo bem na minha frente. Fiquei paralizada, aquilo fora repentino, vi a cabeça do cão cair na minha frente e logo atrás os pés daquele que provavelmente matara o animal... era o guardião.


Um medo me consumiu por completo naquele momento. Eu queria me levantar, mas minhas pernas pareciam que haviam travado... o guardião usava uma máscara preta, e apenas um olho estava a mostra... ele realmente era assustador.


O olhar dele era vago. Parecia que ele não tinha alma, parecia que era uma máquina ou algo do tipo... que tinha como propósito, apenas matar. O guardião dava alguns passos em minha direção, ele me olhava de uma maneira incrivelmente indiferente... e quando ficou a poucos centímetros de distância, encostou a ponta da espada ensangüentada abaixo do meu queixo... nessa hora vi minha morte chamar... porém ele erguia meu rosto para que pudesse me ver melhor.



Ps: SAREUS é uma agência fictícia que inventei. Caso exista é mera coincidência.


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